quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Por que Aécio, agora, defende o Bolsa Família?


Durante a última década, o PSDB e seus líderes (incluindo o senador Aécio Neves) atacaram o programa Bolsa Família de maneira raivosa e insistente. Disseram que estimulava a vagabundagem e a preguiça, propiciava a manipulação do eleitorado e que era apenas uma esmola, distribuída com interesse eleitoreiro. Veja aqui a opinião do tucano Álvaro Dias.

Patrocinando um “cavalo de pau” na opinião do partido, Aécio Neves resolveu defender enfaticamente o programa, arrebatando para si a proposta do governo de tornar o Bolsa Família uma política de Estado. Mas o que explica essa mudança de opinião?

Passados 10 anos da criação pelo presidente Lula, o programa alcançou resultados impressionantes, o que conquistou reconhecimento internacional e hoje é um modelo adotado em vários países do mundo.

O programa tirou mais de 22 milhões de pessoas da miséria absoluta. Aliado ao programa Brasil sem Miséria, criado pela presidenta Dilma, a redução da extrema pobreza chega a 89%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social.

O custo do programa não ultrapassa 0,46% do PIB, mas cada real transferido pelo programa se transforma em R$ 1,78 na economia, estimulando a atividade econômica e o consumo das classes mais pobres.

Integrado com o Pronatec, oferece uma porta de entrada para a cidadania e uma porta de saída rumo à capacitação profissional. Um milhão de vagas dos cursos técnicos são reservadas exclusivamente para beneficiários do Bolsa Família.

Enquanto a média nacional de abandono no ensino médio é 10%, entre os beneficiários do programa fica em 7%. A freqüência mínima exigida para os alunos vinculados ao Bolsa Família é de 85%. A taxa de aprovação no ensino fundamental é igual ao patamar da média e no ensino médio é superior a média nacional. É, portanto, um importante instrumento de inclusão no sistema educacional e ferramenta para o combate do trabalho infantil. Segundo o MEC, são mais de 15 milhões de alunos vinculados ao programa.

Outro resultado importante foi a contribuição para a redução da mortalidade infantil, principalmente nas doenças relacionadas à pobreza. Dentre as famílias beneficiadas, houve uma redução de 46% na mortalidade por diarréia e 58% nas mortes por desnutrição. Além disso, mais de 99% das crianças do programa são vacinadas de acordo com o calendário de vacinação do Ministério da Saúde.

Por outro lado, a geração de empregos propiciou que mais de um milhão e seiscentas mil famílias saíssem do programa por terem alcançado renda superior ao máximo permitido para continuar recebendo a bolsa. Portanto, o mito de que é necessário criar uma “porta de saída” cai por terra, pois as portas de saída já existem.

Com tantos resultados e o reconhecimento internacional, a proposta do senador, meio mineiro e meio carioca, Aécio Neves, de transformá-la em política de Estado só pode ser explicada como uma manobra oportunista e hipócrita. E que ainda pode custar caro pra ele, pois por mais que reivindiquem a paternidade do programa, todos os beneficiários sabem quem realmente foi o responsável por sua implantação. Por outro lado, o discurso raivoso dos tucanos contra o Bolsa Família acabou alimentando uma patrulha reacionária de eleitores, inclusive nas redes sociais, que ficarão órfãos nas suas pregações preconceituosas e podem não reconhecer mais o tucano como seu líder.

Independente dos motivos, a rendição dos tucanos aos efeitos positivos do Bolsa Família representa uma vitória de quem apostou que seria possível reduzir a pobreza e acabar com a miséria absoluta.


Resta, agora, aprofundar as mudanças, pois como reconhece o governo, “o fim da miséria é apenas o começo”.

O menino no trono de Francisco


O vovô Francisco falava do seu modo afável de sempre, e o menino saltitava ao seu redor, como se estivesse no jardim de casa. Como se o avô estivesse podando uma cerca em uma tarde ensolarada qualquer de outono, deixando que o netinho se movesse livremente com a promessa de não se afastar muito. Ele poderia muito bem lhe dizer: "Cuidado que você vai cair", como diz um idoso um pouco ansioso a uma criança irrequieta.
A reportagem é de Paolo Di Stefano, publicada no jornal Corriere della Sera, 29-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Isolado do contexto, podia ser um retrato íntimo, de família, mas estávamos na Praça de São Pedro, durante uma homilia, a despeito de milhares e milhares de fiéis incrédulos. Um quadro terno e cômico ao mesmo tempo, porque o avô não era ninguém menos do que o papa, e o menino tinha escapado da multidão para ficar lá em cima, ao lado do vovô que lhe acariciava a cabeça, voltando ocasionalmente a abraçá-lo para um apelo irresistível de afeto e daquela cumplicidade que só os avós conseguem ter com os netos.
Esse papa sabe dar naturalidade a palavras e a gestos que até recentemente pareciam impensáveis. Tudo de uma simplicidade desarmante, como o primeiro "boa noite" do dia 13 de março. Como as caretas sorridentes e confidenciais com o pequeno. Como aquela agitação do menino "impertinente", que, com a sua camisa amarela de mangas longas demais, ia se sentar por um instante no trono pontifício. Talvez alheio a tudo, talvez bem consciente daqueles poucos minutos de celebridade, enquanto o vovô Francisco continuava falando tranquilo ao oceano daPraça de São Pedro, sem prestar muita atenção ao moleque que agora já estava ao seu lado mexendo com uma mão nas pregas do hábito branco.
Era o encontro das famílias, mas já tínhamos visto muitas crianças em torno do vovô Francisco. Em julho, no Rio de Janeiro, ele abraçou Nathan, um garoto de nove anos que escapou da multidão para alcançar o papa, que, para cumprimentá-lo, pediu que o motorista parasse o carro. Em setembro, ele quis telefonar para Federico, de seis anos, que de Chivasso tinha lhe enviado um desenho de flores coloridas. Em Assis, outro abraço com uma criança que tinha se jogado no seu colo sacudindo uma bandeira. Não um abraço qualquer, mas um apertão pleno, forte, reconfortante e, depois, a caminhada acima nas escadas, de mãos dadas.
Certamente, não foi um avô que disse "Deixai vir a mim as crianças", mas não importa.

"É mais difícil vencer o preconceito do que vencer a fome"

Do Estadão
BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou os críticos do programa Bolsa Família na solenidade, nesta quarta-feira, de comemoração dos dez anos do programa. Lula, mesmo sem citar nomes, lembrou de artigos de jornais e políticos que consideravam o Bolsa Família ora como “ bolsa esmola”, ora como “desperdício de dinheiro”. O ex-presidente afirmou que o Bolsa Família integrou ao Brasil milhões de pessoas pobres e que mostrou que era possível, segundo ele, acabar com a fome no país. Ele declarou que, se pudesse voltar no tempo, faria tudo outra vez.
- Se eu tivesse que voltar no tempo começaria outra vez meu governo pelo combate à fome, à desigualdade e pelo Bolsa Família.
Na opinião do ex-presidente, o programa instituído por ele é vítima de preconceitos.
- Certas reações levam a crer que é mais difícil vencer o preconceito do que vencer a fome. E um dos preconceitos mais cruéis enfrentados pelo programa é que ele iria incentivar a vagabundagem.
Para Lula, esse tipo de acusação é típica da visão preconceituosa de pessoas que se acham que só se é pobre por indolência. Ainda de acordo com o ex-presidente, o Bolsa Família tem tornado os pobres mais conscientes de que não precisam de favores políticos.
- Chama a atenção que algumas pessoas falam tanto da porta de saída quando acabamos de abrir a porta de entrada. Vamos deixar bem claro, esse programa tem apenas dez anos e a História do Brasil tem cinco séculos.
Dirigindo aos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Míriam Belchior, Lula disse que para o enfrentamento da pobreza o governo não pode medir os gastos.
- Parem de regatear dinheiro para os pobres.
E, num recado à presidente Dilma, disse que serão os pobres os únicos a agradecer o que o governo faz por eles
- Dilma, continue assim. Quem vai lhe agradecer pelo resto da vida são as pessoas pobres que você ajuda porque as outras te esquecerão com muita facilidade.

Vice do PSB bate forte nos gurus de Marina e no "presidencialismo de coalizão".

Um dos mais consistentes artigos que já li sobre o verdadeiro jogo político, as limitações do chamado "presidencialismo de coalizão" e uma forte crítica ao gurus do neoliberalismo que recentemente têm orientado Marina Silva. 
Roberto Amaral (vice-presidente do PSB) expõe suas críticas com elegância, inteligência e fidelidade ideológica a sua história, sem se deixar levar pelo discurso fácil e raso dos críticos parciais que esbravejam raivosamente pela ética na política (desde que seja apenas contra o PT) sem se preocupar em criticar o próprio sistema vigente. 
Ele ainda faz um paralelo entre o desastre neoliberal do governo FHC e as conquistas sociais e econômicas da última década. Demarca os espaços e propõe o fortalecimento das forças progressistas no congresso para que se livrem da armadilha do fisiologismo comandado pelo PMDB.
Tomara que Eduardo Campos e a nova aliada tenham dedicado um pouquinho de tempo da campanha para ler esse artigo do seu vice-presidente. E os estrategistas do PT também.
É um artigo longo, mas que vale a pena ler até o final.

De tática e de estratégia
A eleição presidencial, do ponto de vista político-ideológico, será travada em condições mais difíceis para o campo progressista.
Tática e estratégia são termos bastante conhecidos pelos militantes da esquerda, pois, de certa maneira, foram importados da guerra (Clausewitz, 1832) para a política, pela práxis do chamado marxismo-leninismo. A vitória, objetivo final da guerra, é a soma de conquistas e, às vezes, de derrotas, táticas. A história está repleta de exemplos paradigmáticos e um deles, dentre tantos, é o das retiradas táticas de Kutuzov, preparatórias da vitória da Rússia sobre Napoleão e o Exército francês. Com todos os riscos das simplificações, ouso dizer que estratégia (que se pode definir, latu senso, como a arte de explorar as condições de luta em proveito de determinado objetivo) é, politicamente, o objetivo final, e a tática, a ação instrumental - meio, ou, se quiserem, o movimento, ou guerra de posições (Gramsci), esta muito condicionada pelas circunstâncias.
O pleito de 2014, já em curso, coloca na cena adversários eleitorais, e, de certa maneira, adversários políticos, na medida em que tivermos visões políticas -- visão de mundo e de Brasil--, distintas (O suposto é que comunistas, socialistas, social-democratas, trabalhistas, liberais, conservadores et caterva as tenham). Adversários que deverão se definir, e se possível se distinguir entre si, em face de problemas concretos, como  saúde,  educação e  segurança, mazelas que não são causa, mas efeito da ordem capitalista, que os socialistas combatem.
Deles é a inimiga estratégica (final), provedora de todas as injustiças sociais cevadas pelo Estado de classes e seu testamento de desigualdades econômicas, políticas e sociais, das quais resultam (pois não caíram dos céus) a disfunção da saúde pública (e não da saúde privada), a disfunção da educação pública (e não da educação privada), a disfunção da segurança pública (e não da segurança privada). O que não funciona é o SUS. O Sírio-Libanês e os Einsteins, como seus quejandos, funcionam muito bem. Para quem pode pagar. O campo progressista combate, tendo como adversário estratégico o campo conservador. Táticas, entretanto, podem ser as divergências que sempre ocorrem em nosso campo, na busca incessante de definir o melhor meio de enfrentar o inimigo estratégico, hoje, como ontem, pronto a suprimir conquistas democráticas e sociais, pois esta é a essência do capitalismo.
O socialismo – é sempre bom lembrar - nasce da crítica ao capitalismo (e, dele conseqüente, a ditadura da burguesia sobre o proletariado, do capital sobre o trabalho) e tem como seu objetivo final (ou estratégico) a derrocada do  regime de injustiças  e sua substituição por uma sociedade sem classes, fundada, portanto, na liberdade e na igualdade. A fraternidade do Iluminismo chega por conseqüência. Mas a Revolução tout court não está posta, e não é uma expectativa vista de nosso horizonte histórico.  Por força disso que parece ser uma evidência, aqueles que contestam o capitalismo e o elegem como adversário, socialistas à frente,  optaram pela via eleitoral, dentro do capitalismo e segundo suas regras, para a disputa, imediata, do governo, e, remotamente, do poder (quem sabe quando?). Em outras palavras, os revolucionários se tornam reformistas pro tempore. Mas, lembre-se sempre, sendo tática, isto é, imposta pela oportunidade, a opção reformista não  implica, necessariamente, renúncia à revolução,  a ser pleiteada quando as condições objetivas indicarem seu momento. O problema é que muitas vezes nem reformistas conseguimos ser.
Para os socialistas, portanto, o período eleitoral é também o rico momento de proselitismo, de defesa de suas teses, de difusão de seu programa, de conquista de adeptos. É o momento de falar ‘aos corações e mentes’, de fortalecer suas organizações e preparar as condições favoráveis para uma futura base de governo progressista.
Por força dessas considerações, todos os objetivos eleitorais são táticos, e táticas são as alianças que a lógica dos pleitos impõe, com o peso, inclusive, das contradições programáticas, desde que não se perca de vista o combate ao adversário estratégico.
É o retrato da realpolitik.
A disputa pela Presidência da República, porém, não é irrelevante, ditam nossas derrotas e  nossas vitórias recentes.
Significa a intervenção possível, hoje, na realidade que se pretende transformar, em favor do progresso das forças sociais. Se ainda não é possível revolver o Estado de classes, reformulemo-no, fazendo emergir os interesses das massas sotopostas, sempre irmãos dos interesses da Nação, do desenvolvimento, da soberania, donde, no caso brasileiro, a associação entre nacionalistas, socialistas e a esquerda de um modo geral. Dou como exemplo de iniciativa nesse sentido o governo Vargas do período democrático (1951-54). Juscelino, após a inflexão reacionária do regime tampão de Café Filho (1954-1955), reuniu o apoio popular a composições com o capital nacional e internacional. Superou as diversas tentativas de deposição e cimentou o projeto desenvolvimentista.  Jango (1961-1964) assinala a primeira grande emergência das massas em todo o período republicano. Mas emergência frustrada pelo golpe militar de 1964.  Lula (2003-2011), promove o encontro das grandes massas com o intento varguista da conciliação de classes. Manteve-se no poder, reelegeu-se e elegeu sua sucessora.
Nessa perspectiva, podemos dizer que, com as alianças (ações táticas) possíveis, os governos Vargas (PTB-PSD) e Lula (PT-PMDB, principalmente no segundo quatriênio) lograram  perseguir o desenvolvimento (um desenvolvimentismo que eu chamaria de ‘nacional-popular’) do país como ponto de partida para realizar – não a justiça social, porque ela é impossível sob o capitalismo – mas  a emergência política, econômica e social das grandes massas, produzindo riqueza e distribuindo  renda como meio de reduzir as brutais desigualdades sociais e econômicas que fazem de nosso país um dos mais injustos do Planeta.
O governo Dilma, não obstante a persistente crise financeira internacional, não só dá continuidade ao binômio desenvolvimento-distribuição de renda, como ousa enfrentar o capital financeiro, ao promover a baixa dos escandalosos juros praticados desde sempre em nossa economia. Esbarra, entretanto, no alto preço que o presidencialismo brasileiro, dito de ‘coalizão’, cobra para a governabilidade que fugiu das mãos de João Goulart. Rende-se, no Congresso, à base conservadora, constituída por oportunistas de todos os matizes, sob a liderança paralisante do PMDB. O fato objetivo é que nenhum governo democrático brasileiro conseguiu realizar a reforma do Estado. Os pontos principais das ‘reformas de base’ levantadas por Jango estão dramaticamente atuais.
A disputa, portanto, dar-se-á, no plano programático-ideológico, a partir dessa realidade fática. De um lado estará o nosso adversário estratégico, o campo conservador, que trabalha sob o marco da tragédia que foi o governo neoliberal de FHC, definido como exemplar por Mailson, Malan, Armínio Fraga, Lara Rezende, Gianetti e outros, incensados no cotidiano pela mídia vassala. Do outro lado, o campo progressista, ao qual cabe   consolidar e aprofundar essas conquistas da democracia brasileira, ela própria uma conquista, como a distribuição de renda, espargindo seus benefícios por um número ainda  maior de brasileiros e, ademais, melhorando a qualidade desses benefícios.
Prever o futuro, adiantar os fados, isso é obra de cartomantes, pitonisas e astrólogos. Não possuo esses dons. Posso, porém, ad argumentandum, projetando  para 2014  os dados de hoje,  afirmar  que as eleições presidenciais, do estrito ponto de vista político-ideológico, ressalte-se, travar-se-ão  em condições mais difíceis para o campo progressista (considerando-se a ambiência em que se desenvolveram as eleições de 2002 até aqui), posto que, a despeito das inegáveis conquistas dos últimos 10 anos, as esquerdas se acomodaram ao presidencialismo de coalizão e perderam espaço na formulação de propostas governamentais,, o que só é amenizado pela evidência de que  a direita se apresenta, partidariamente, envolta em contradições internas insuperáveis no eixo São Paulo - Minas. Não tenhamos, entretanto, ilusões. Para o imperialismo americano o Brasil é muito importante, não só do ponto de vista econômico como, principalmente, geopolítico. Na hora apropriada, a direita marchará unida, com o apoio da mídia goebbeliana, a trombetear a revisão histórica das conquistas até aqui havidas e o retorno ao delírio neoliberal.
Essas considerações constituem um longo preâmbulo para a discussão de matéria que me parece mais de fundo: a continuidade da união das forças progressistas e de esquerda, para além do pleito de 2014, que, mirando-se o mundo do alto da ponte, é uma incidência, importante, mas apenas isso para quem pensa em termos históricos. A esquerda orgânica precisa cuidar para que as tricas e futricas (inevitáveis) da disputa eleitoral, a política menor,  não se sobreponham ao projeto da grande política, que é a construção das opções populares. E a mais didática forma de os partidos da esquerda – PSB, PT, PCdoB e PDT -revelarem esses objetivos maiores, de união na ação, é avançarem na atuação conjunta no movimento social. No momento em que, justamente, sobreleva a febre eleitoral, é hora de nossos dirigentes contemplarem o futuro que é a continuidade da ação comum nas lutas empreendidas pelos movimentos sociais.
Ademais, qualquer que seja o pronunciamento da cidadania eleitoral, é fundamental, para nosso futuro, que os partidos do chamado ‘campo das esquerdas’ renovem e aumentem substancialmente suas presenças no Congresso, de especial na Câmara dos Deputados, onde, atualmente, somos esmagada minoria, a mercê de transações que se operam à margem da política e de qualquer ordem de ética.
Ninguém, a não ser os anjos no Paraíso e os paranóicos na terra, realiza  a política dos seus sonhos na Passárgada que inventou; todos fazemos a política possível (com os dados fornecidos pela realidade) no mundo real, um possível condicionado pela ordem ética de cada um.  A preeminência das circunstâncias sobre o sonho, da realidade sobre a vontade, não constitui, porém, um determinismo. Se ao agente político não é dado escolher as condições nas quais vai atuar, cabe-lhe, sempre escolher, livremente, o papel a exercer nas circunstâncias dadas.
Leia mais em www.ramaral.com
*Roberto Amaral é vice-presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), ex-ministro da Ciência e Tecnologia e ex-presidente diretor da empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS)

domingo, 27 de outubro de 2013

Aécio Neves ainda será candidato?

Se fosse pra apostar, diria que não. A cada movimento no tabuleiro do xadrez eleitoral, a cambaleante candidatura do senador mineiro fica mais enfraquecida.

A pesquisa IBOPE divulgada na última semana retratou bem essa realidade. Além de não decolar nas pesquisas, o candidato assistiu, recentemente, uma surpreendente aliança entre seus outros dois adversários pela vaga no segundo turno, Marina e Campos. Essa aliança passou a ocupar todo o generoso espaço que a mídia tradicional costuma disponibilizar para a oposição ao governo Dilma. A força da união dos dois ex-ministros do presidente Lula isolou ainda mais o tucano e abriu novamente espaço para o ex-governador José Serra levantar da tumba em que foi jogado pelo voto popular.

Com um discurso fraco, incapacidade de alinhavar propostas e sem entusiasmar a elite paulista e midiática, Aécio parece não ter encontrado ninguém que topasse conversar com ele. Este cenário pode condenar o PSDB a ter que engolir mais uma candidatura serrista, levando o partido a uma derrota que pode transformá-lo em um mero coadjuvante na política nacional. Nos últimos dias, Serra retomou a postura de candidato e tenta arrebatar de Aécio a condição de líder da oposição. Com um discurso feroz contra o governo, voltou a marcar posição, se apresentando como a verdadeira opção para quem, como ele, odeia as políticas públicas implementadas desde 2003.

Por outro lado, se Aécio insistir na candidatura presidencial correrá um grande risco de perder também o seu principal trunfo que é o governo de Minas. O petista Fernando Pimentel lidera todas as pesquisas, vencendo com folga no primeiro turno. Os tucanos mineiros não possuem nenhum nome competitivo e, aparentemente, a única possibilidade de manter o controle do Palácio da Liberdade é a candidatura do próprio Aécio ao governo de Minas. Mesmo assim não encontrará nenhuma facilidade neste projeto. No entanto, assumiria um risco menor que a insistência numa candidatura que parece condenada a um retumbante fracasso.

Enquanto isso, a presidenta Dilma volta a surfar em boas ondas. Aprovou o Mais Médicos no congresso, com forte apoio popular, o desemprego se mantém em níveis baixíssimos, a inflação perdeu fôlego, continua reduzindo a pobreza e passou a adotar uma estratégia de comunicação mais ousada, ocupando com muita determinação espaços importantes nas redes sociais. Em poucas semanas, conquistou mais de dois milhões de seguidores no Twitter. Certamente não voltará a desfrutar dos altos índices de popularidade que tinha antes das manifestações de junho, mas poderá recuperar terreno suficiente pra garantir a reeleição.

Assim, se o processo de esvaziamento da candidatura de Aécio continuar, a oposição e a grande mídia terão que escolher entre dois caminhos: embarcar na canoa furada movida a ódio do ex-governador Serra ou escolher entre dois dissidentes lulistas que procuram conquistar os setores conservadores da sociedade misturando um discurso de uma “nova política” com práticas tão envelhecidas como seus novos aliados.


Que venham os próximos lances.

sábado, 26 de outubro de 2013

Sarau do blog: "Despedida"

O Sarau do blog será um espaço para a poesia paracatuense. Enviem contribuições. A primeira vem da família e utiliza o codinome AnigerSadlac. 

Despedida

Só vou sair de cena...
apesar de saber que a vida não é um teatro...
eu só quero mergulhar profundo...
alçar voos mais longínquos...
Ficam as marcas
do que fui
gravadas onde passei...

Fica a cor dos olhos seus
nos meus...
o abraço
o encanto
o tormento
o mel
o lamento...
o gosto
desgosto

O adeus...

"A morte é só uma curva na estrada,
é tornar se invisível"...

(AnigerSadlac)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Fome e pobreza são temas de Assembleia Nacional da Rede Cáritas



Prevista para ser lançada em dezembro deste ano, a Rede Cáritas Internacional prepara uma campanha mundial contra a fome a pobreza. É com vistas a esta grande mobilização que a Cáritas Brasileira debaterá, durante a sua XIX Assembleia Nacional, temáticas relacionadas às realidades da fome e da pobreza no Brasil e no mundo. O evento, que ocorrerá em Brasília (DF), de 17 a 20 de outubro, reunirá cerca de 250 agentes e voluntários da Rede Cáritas Brasileira de todo o país.

De Minas Gerais a Cáritas estará com uma delegação de 16 participantes que irão partilhar e ajudar a construir a reflexão das temáticas do evento.

Os principais temas debatidos durante os quatro dias do evento serão: pobreza e desenvolvimento no Brasil; o olhar da Igreja sobre a realidade que gera pobreza e miséria; e práticas que visam a superação da pobreza. Além disso, depoimentos mostrarão a realidade das mulheres, de crianças, adolescentes e jovens, dos povos tradicionais, da população de rua e das periferias e da realidade da pobreza no Haiti.

sábado, 12 de outubro de 2013

Ave Maria Latino Americana




Ave Maria
grávida das aspirações de nossos pobres
o Senhor é convosco,
bendita sois vós entre os oprimidos,
benditos são os frutos de libertação do vosso ventre.
Santa Maria Mãe latino-americana
rogai por nós
para que confiemos no Espírito de Deus,
agora que o nosso povo assume a luta por justiça
e na hora de realizá-la em liberdade,
para um tempo de paz.
Amém!



(texto atribuído a Frei Betto)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Pedro Antônio em Paracatu

Trechos do show do violeiro Pedro Antônio em Paracatu, no Festival da Musica Brasileira

Alpendre



Quem sabe isso quer dizer amor


O Sol (Jota Quest)



Procurando Paz



Cipreste



Pomar

As primeiras crises do casamento de Marina e Eduardo

Ainda deveria ser uma lua de mel, mas o casamento mais comentado do ano começa a viver as primeiras crises. Aliás, essas crises precoces são muito próprias dos casamentos por interesse.

Depois de sacudir a política no último final de semana com a surpreendente adesão a candidatura de Eduardo Campos, Marina Silva deixa claro nas entrevistas divulgadas nesta quarta-feira (09/10), que não pretende ser uma mera coadjuvante. Ela coloca lenha na fogueira e, sem papas na língua, embaralha as cartas de novo.

Primeiro, ela manda o Ronaldo Caiado, amigo de Eduardo Campos, procurar o caminho de casa. Ela diz textualmente: “O Caiado e eu somos tão coerentes que, se a aliança prosperar comigo, ele mesmo vai pedir para sair, se é que não está pedindo”.

Marina também deixou claro que sua candidatura não está completamente descartada e diz que “nós dois somos possibilidades e sabemos disso”.

Ao contrário do pragmatismo do PSB e do Eduardo Campos, Marina procura manter a coerência, detona as alianças do pernambucano e reafirma que prefere “perder ganhando, que ganhar perdendo”, repudiando as negociatas do governador pernambucano, que envolveram a família Bornhausen, Heráclito Fortes, Caiado e outras raposas que Marina costuma chamar de gente da “velha política”.

Outra surpresa foi a declaração de apoio ao deputado Reguffe, do PDT, para o governo do Distrito Federal, em detrimento da candidatura de Rodrigo Rollemberg do PSB de Eduardo Campos. Rollemberg foi um dos padrinhos do casamento e esperava o apoio da ex-senadora.

Como se não bastasse tudo isso, alguns "marineiros" lançaram uma campanha na internet, que está proliferando rapidamente com o mote "Entre nessa campanha você também. Não quero Eduardo Campos, quero Marina Silva. Curta e Compartilhe!"

No sentido oposto, um dos principais articuladores do Rede Sustentabilidade, o marineiro Luciano Zica, abandonou o projeto alegando incoerência na decisão verticalizada de Marina Silva, contrariando um aspecto considerado essencial no estatuto do partido que é a horizontalidade das decisões. Ele disse que tomou sozinho a decisão de sair do Rede. “Fiz igualzinho Marina: não discuti com ninguém”.

Resta saber como Eduardo Campos vai conseguir administrar sua praticidade, própria dos políticos tradicionais, com o ímpeto “sonhático” de Marina Silva e seus verdadeiros seguidores.

Na política, assim como no xadrez, um lance aparentemente genial, pode revelar minutos depois, fragilidades que podem ser fatais.

O jogo continua e promete muitas surpresas e emoções.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A aliança Marina/Campos e o xadrez da política

O último sábado foi marcado por um surpreendente lance no xadrez da política. A segunda colocada nas pesquisas recusou todos os convites para filiação partidária que garantiriam legenda para disputar as eleições presidenciais em 2014 e aderiu a candidatura do quarto colocado Eduardo Campos do PSB.

Essa união causou perplexidade entre os analistas políticos e espalhou rapidamente a impressão que a polarização PT-PSDB está seriamente ameaçada.

Não ficou muito claro de quem foi a iniciativa do movimento, mas as últimas notícias levam a conclusão que a estratégia foi urdida principalmente pela Marina Silva e não por Eduardo Campos, que inicialmente parecia ser o mentor do lance.

Pelas informações de um dos aliados de Marina, ela decidiu às 4 horas da madrugada de sexta feira que retiraria seu nome em favor de Campos e deu a partida para as articulações que culminaram com o acordo entre os dois ex-ministros de Lula.

Mas quem ganha e quem perde com tudo isso?  Numa primeira análise, fica evidente os danos irreversíveis a candidatura tucana de Aécio e o surgimento de uma ameaça real a Dilma.

Aécio, que já tentava sustentar uma candidatura cambaleante, foi nocauteado com esse acordo e está praticamente fora do jogo. Ele não pode levantar o discurso do novo, pois representa o passado, e agora terá dificuldade para construir uma aliança anti-PT, pois o discurso raivoso que tentou copiar do seu companheiro José Serra parece não empolgar tanto quanto parecia e só agrada um pequeno grupelho na sociedade, que adora disfarçar o próprio preconceito com um ódio visceral a todas as conquistas sociais dos últimos anos.

Há muito tempo, observadores e analistas diziam que apenas uma alternativa nascida dentro das entranhas do “Lulismo” seria capaz, paradoxalmente, de tirar o PT do governo. Isto porque as conquistas da era lulista possuem força política inegável e só alguém que compartilhou essas conquistas seria capaz de apontar uma alternativa que minimizasse a impressão de ruptura.

E é esta a grande dificuldade que a candidatura de Dilma irá enfrentar. Uma força política que não nega as conquistas do “Lulismo”, ao contrário reconhece e exalta, mas propõe mudanças, embora não deixe claro que mudanças seriam essas.

E é nesse ponto que pode aparecer as primeiras contradições da nova aliança. Que mudanças podem ser propostas para conciliar interesses tão divergentes? Como conciliar o discurso ambientalista de Marina Silva com a posição majoritária no PSB a favor de um código florestal tão combatido pela ex-ministra? Como explicar para a população que Marina Silva, Ronaldo Caiado (aliado de primeira hora do “socialista”), Eduardo Campos, Jorge Bonhausen e Heráclito Fortes possuem pontos de convergência, além do desejo de tirar o PT do governo? Como conciliar a defesa da herança lulista (como pretende Eduardo Campos) com o ódio dos seus neo-aliados?

A força da candidatura Campos vai depender de como ele e Marina Silva vão desatar esses nós. A ameaça a reeleição de Dilma crescerá na mesma proporção do tamanho da aliança que eles conseguirem construir e na medida em que conseguirem equalizar as críticas ao estilo Dilma com a necessidade de aprofundar as conquistas dos últimos onze anos. Dependerá também da aceitação que terão em setores da mídia e da direita brasileira.


Por enquanto só é possível afirmar uma coisa: a eleição, agora, será decidida entre três ex-ministros do governo Lula.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Aécio Neves, eu topo conversar!


O candidato tucano, metade mineiro metade carioca, ocupou o horário político do seu partido espalhando um convite pra uma conversa.

Pois bem senador, eu topo conversar. Será uma boa oportunidade para esclarecer vários assuntos que a grande mídia se nega a debater com a sociedade. São tantos pontos importantes que é até difícil saber por onde começar. Mas como sou filho e marido de professoras, podemos começar pela forma como seu governo e do seu sucessor trataram a educação.

O governo federal, ainda no mandato do ex-presidente Lula, criou o piso nacional da educação, buscando iniciar um processo de valorização desses profissionais. Segundo o sindicato da categoria, Minas Gerais não respeita o piso. Por que vocês não admitem pagar esse piso? Por que os salários dos professores mineiros são tão humilhantes? É este o modelo que o senhor pretende implantar em todo o Brasil?

E por falar em modelo, um líder deve ser um exemplo não é? O senhor acha correto um cidadão, abordado em uma blitz, se recusar a soprar um bafômetro? Por que o senhor deu esse exemplo? Por acaso, estava sem condições de dirigir e colocando em risco a vida de outras pessoas?

Já que estamos falando em vida, que tal explicar a denúncia do tal desvio de mais de 4 bilhões de reais da saúde durante o seu governo?

O senhor propagandeou durante oito anos, um choque de gestão, marca do seu mandato. Só não entendi porque esse tal choque acabou quebrando o estado, gerando uma dívida que até o senhor fala que é impagável e achatando criminosamente o salário do servidor. Explica aí, por favor.

Que tal conversarmos sobre aqueles esquemas montados em Minas Gerais e que ficaram conhecidos como mensalão tucano e lista de furnas? Como se sente como contemporâneo da turma que, segundo as denúncias, inventou esses esquemas? Sorte sua ter uma mídia tão amiga que cobra indignadamente o mal feito dos seus adversários e são tão complacentes com as tramoias que envolvem tucanos. 

E já que vocês gostam tanto de falar de corrupção, que tal conversarmos também sobre o propinoduto tucano no metrô de São Paulo? A denúncia descreve um rombo correspondente a dez mensalões. Você não está indignado com seus companheiros paulistas? Aliás, falando em companheiro, você defendeu ardorosamente o ex-senador Demóstenes Torres no senado federal. Elogiou sua “honestidade” e o apresentou como modelo e exemplo. Continua tendo a mesma opinião sobre ele?

Como a mídia não fala nada, conta pra gente como eram feitos os repasses do governo do estado para a rádio Arco-Íris. Sei que o Ministério Público está investigando, mas o senhor não acha estranho repassar dinheiro público para uma empresa que tinha, segundo a denúncia, o senhor e sua irmã como sócios?

Uma coisa devo reconhecer. O senhor foi o único candidato tucano a não se acovardar, defendendo entusiasmadamente o governo do seu companheiro FHC. Esse período da história do Brasil foi retratado muito bem pelo jornalista Amaury Ribeiro Junior no livro A Privataria Tucana. Não sei se o senhor leu o livro, mas revela um esquema e tanto heim?! Não vamos nem falar das provas apresentadas no livro, do maior desvio de dinheiro público da história do Brasil. Que tal falarmos apenas sobre o que o governo de vocês fez com o que sobrou do dinheiro das privatizações? Pelo jeito, ninguém sabe e ninguém viu.

Mas certamente o senhor viu que o governo federal criou um programa pra levar médicos para lugares onde, poucas vezes ou nunca, o cidadão viu um médico. O “Mais Médicos” tem, obviamente, aprovação da grande maioria da população. Por que o senhor e seu partido são contrários a essa ideia?

Outra boa ideia do governo Dilma foi a criação do Programa Ciência sem Fronteiras que deve levar, até o final do próximo ano, mais de cem mil estudantes para se aperfeiçoarem em universidades do mundo inteiro. Dentre esses estudantes estão gente de todas as classes sociais, inclusive jovens que jamais poderiam pagar por essa experiência, como minha filha. No entanto, apesar de todo o esforço do governo e destes jovens, o seu partido é um forte crítico desse programa. O senhor concorda com o seu partido e pretende extinguir o programa?


Pra terminar, só mais uma perguntinha. O que o senhor achou do artigo do Mauro Chaves, colunista do Estadão, com o título “Pó pará, governador”?